Monday

GUELRA URBANA

(Ísis Zisels)

Galopa urbes
Logos gago
Gânglio em guerra
Gole enterra
Lúgubres
Lagos

ESCÁRNIO

(Ísis Zisels)

O cerne do erro
Ruge no rosto
Rastro arranha
O roxo:
Carne exposta
Do afrouxo!

METEMPSICOSE

(Ísis Zisels)

Meu amor vem das Moiras,
Deusas crônicas;
Das fibras sintônicas,
Dos tecidos febris

Vapores de peles,
Anatólias hedônicas;
Órficas danças
E noites sutis 

Ventre de Ceres,
Elêusis em glória
Cibeles: do sonho
À memória

Luas partidas,
Templos do inferno:
Outono inventando
As bocas do inverno

FOTOGRAFIA

(Ísis Zisels)

Ela e o falo
O mundo deflora
Dentro aflora
A flor de fora

Muda tudo
Muda fala
Cor desnuda:
NONADA

Flagra a luz
Flui no tempo
Arte-fato
Olhar atento

ENTRELINHAS

(Ísis Zisels)

Escrevo para expurgar demônios!
Gritar ao mundo o que há entre colchetes!
Libertar errantes “erres”
Na túrgida resposta das amígdalas

Escrevo para vomitar hipérboles
Em crônicos “ais”
E cômicos “mas”,
Devorados por vírgulas,
Na síncope do tempo

Escrevo para interpretar-me
Render-me às reticências...
Exclamar volúpia e dor
Na divina loucura do amor!

Escrevo no espaço das orações
Sem aspas ou interrogações:
Nua, lúcida, plena
No vazio silencioso que ultrapassa o verbo...

JÔNICA

(Ísis Zisels)

Sou um par de estrelas míopes
Amando a noite
Sem despi-la
Tenho veias microcósmicas,
Boca microcósmica
E isso me basta

Devoro átomos,
Respiro Ápeiron,
Desejo vida
E sangro

Habito o cosmo,
Orbito nua,
Percebo o sonho:
Sou Eu ou a Lua?

ÓSCULO

(Ísis Zisels)

Impele-me
Teu encanto:
A pele ao tato
Apela à fala
O tempo cala
Em canto

A língua (oculta)
Atenta ausculta
Tanto

ROMA

Amor
Arte
Amar-te
A morte.